2013 foi um dos piores anos da minha vida. Foi a primeira vez que eu troquei de escola e, pra melhorar, foi bem no ano em que eu ia começar o bendito ensino médio. A escola, muito maior do que a minha anterior, me fazia sentir pequena e consequentemente a cada dia que passava eu me escondia mais ainda. Nessa época, eu usava um óculos quadradinho, cor de rosa e pequenino - pra combinar com a autoestima.
Em contraponto, 2014 foi um dos melhores anos. É por causa dele e do ano seguinte que, até hoje, eu tenho um carinho especial pela escola na qual cursei o ensino médio. Esse foi o ano em que tudo se alinhou. Pela primeira vez eu aprendi a excluir tudo aquilo que não me acrescentava nada. Foi o ano em que eu conheci e/ou me aproximei mais ainda de pessoas que são as minhas melhores amigas até agora. Foi o ano em que conheci, entendi e me aliei de vez ao feminismo e a coisa mais importante de todas: foi o ano em que aprendi a me olhar no espelho e me amar por inteirinho. Junto com tudo isso, 2014 também foi o ano em que eu troquei aquele óculos cor-de-rosa por lentes de contato e, sem querer, acabei associando elas com a minha autoestima. Eu não tinha percebido isso.
Até agora.
Em maio desse ano as lentes começaram a me incomodar, o olho começou a doer e chegou um momento em que a dor ficou insuportável, o que me levou a, claro, consultar a oftalmologista. Depois desse rolê todo (lê-se: consulta) descobri que eu usava as lentes de contato por muito tempo e o meu olho não conseguia se lubrificar. Ficou decidido, então, que eu precisava voltar com o óculos, pelo menos por um tempinho, só para descansar a visão. Então lá fui eu, de mãos dadas com os meus 6,5 graus de miopia (+1 de astigmatismo) escolher um óculos após cinco anos sem nem querer saber deles.
Escolhi, encomendei e chegou. E aí, migas, é que a coisa ficou feia: percebi que aquela Gabriela insegura de 2013 ainda vive aqui dentro e foi só colocar o óculos de grau no meu rosto para ela dar as caras. Me olhei no espelho e chorei muito. Foi como se, em um segundo, todos esses anos construindo o meu amor próprio tivessem sido em vão. Como se um objeto pequenino e leve como um óculos de grau pudesse tirar todo o meu poder de mim.
Eu me senti vulnerável e pequena de novo e perguntei para mim mesma como que alguém que tá sempre discursando sobre autoestima por aí se deixa abalar com algo tão minúsculo. E aí, a resposta apareceu bem rápido: a autoestima não é um ponto de chegada e dar de cara com ela uma vez não é o mesmo que conseguir mantê-la por perto todos os dias. O amor próprio, na verdade, é como todos os outros sentimentos bons que sentimos: eles são parte do nosso caminho, possuem altos e baixos e devemos constantemente fazer o nosso melhor para estarmos sempre pertinho dessas sensações, mas não é tão fácil quanto parece.
Eu achava que uma vez conquistada, ela estaria comigo pra sempre. Eu achava que ela era inquebrável e permanente, só que não. A autoestima, eu concluí, é um processo pelo qual a gente passa não uma, não duas, mas diversas vezes durante a vida. Em 2013 eu tive minhas experiências com esse processo, em 2014 outra totalmente diferente e agora, em 2019, recebi um chacoalho novamente. E tudo bem, sabe? Porque depois de refletir bastante, ficou claro que tudo isso é sobre o nosso interior e não o exterior necessariamente. Bobo, eu sei. Eu também achei que eu já sabia disso. Mas na prática, o óculos de grau me ensinou que não. Eu entendi que, mais do que tudo, autoestima é sobre se olhar com carinho, afinal de contas, somos nós quem mandamos para o nosso corpo os sinais sobre como ele deve se sentir e se já nos enxergamos com ódio e tristeza, é essa a mensagem que ele irá receber.
Autoestima é sobre enxergar com amor até as características que você não aprecia tanto assim. É sobre se ver com menos julgamento e mais afeto. É sobre saber que é esse corpo, com todas as suas perfeições, imperfeições (e adereços, no meu caso) que te carregou para todos os lugares aos quais vocês já chegou e que vai te levar para todos os lugares em que você ainda vai chegar. É sobre andar de cabeça erguida sabendo que como você se parece jamais deve definir como você se sente sobre si mesma. É saber que, na verdade, é exatamente o contrário. É também entender que você, provavelmente, não vai se sentir excepcionalmente bonita 24 horas por dia 365 dias por ano, mas mesmo assim, que deve se enxergar com carinho já que é esse olhar afetivo que vai, um dia, te fazer se ver como alguém incrivelmente suficiente no espelho.
Eu ainda não me sinto 100% bonita com o meu óculos, mas tenho treinado olhar o meu reflexo com mais apreço e ternura e eu garanto que tenho me sentido melhor. Compreendi que o amor próprio é um processo, que ele faz parte do meu caminho, e defini que eu estou 100% disposta a embarcar nessa aventura mais uma vez, afinal, eu sei o quanto se ver de forma mais afetuosa faz bem.
Por essas e outras que eu te convido a entrar nessa aventura comigo. Vamos aprendendo a amar os nossos detalhes devagarinho, mas vamos juntas nessa,
que tal?
VEJA MAIS:
Ei, vamos nos conectar por outras redes também?